quarta-feira, 26 de agosto de 2009
O mundo é como um espelho onde se reflete o interior do homem
A história do cão morto.
Era cerca de meio dia, o Sol dardejava seus raios sobre o mármore do Templo de Salomão e este brilhava como um imenso escrínio sobre a colina de Acra.
Enquanto isto no velho mercado da cidade um pequeno grupo de passantes aglutinava-se em torno dum cão que acabará de morrer e que ainda mostrava, amarrada ao pescoço, a corda com que lho haviam arrastado pelas ruas a guiza de brinquedo vivo. Os que lho cercavam fitavam-no com repugnância e horror.
-- Empesteia o ar! Resmungou um sacerdote todo coberto de linho branco e pertencente a família de Sadoc, enquanto fazia uma careta de desprezo.
-- De fato sua pele - rasgada - nem mesmo para correias de sandálias serve, concordou um fariseu cujos filactérios, franjas e borlas chamavam a atenção de todos.
Um alexandrino que estava de passagem para oferecer sacrífios atalhou: -- Certamente foi arrastado por ter se apossado de algum alimento, e apontou para as orelhas ensanguentadas do pobre animal.
-- Um essênio cujas barbas chegavam ao umbigo aproximou-se do grupo e murmurou: --Sua cauda não serve sequer para espantar moscas!
Tais as cogitações dos filhos da casa de Israel a respeito daquela triste cena na qual soiam destacar aspectos negativos e desoladores.
Entretanto aproximou-se deste grupo um homem desconhecido cujo porte indicava certa dignidade natural e cujo rosto exprimia apenas afabilidade e doçura. Pondo seus olhos cheios de carinho sobre aqueles restos tão vilipendiados pela chusma, exarou estas palavras com seu sotaque galileu:
-- As mais preciosas pérolas que adornaram a coroa de David nosso Pai perdem todo encanto diante da alvura destes dentes...
Todos voltaram-se perplexos para aquele que havia feito tal comentário mas, ao verem-no assim tão sereno e seguro de sí contentaram-se a indagar uns dos outros a respeito de quem era aquele homem, foi quando um dos escribas ali presentes torceu o nariz e disse:
-- Acaso não sabeis meus irmãos quem é este homem?
É o rabino Jesus de Nazaré da Galiléia, só mesmo um desmilado como ele é capaz de perceber algo de digno e bom até mesmo na carcaça dum cão morto. E balançando a cabeça em tom de desaprovação exclamou: Shema Tsrael, Adonai Eloheinu, Adonai Echad...
Adaptada pelo Profo Domingos P Braz
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