"Então em que acredita, uma vez que ignora o sobrenatural??? -- Creio na humanidade, creio no ser humano, creio em você; respondeu ele (O Abade Faria), Eis todo meu credo."

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terça-feira, 14 de setembro de 2010

Carta de amor


A S. único, eterno, imortal e inesquecivel amor...







Quizera te esquecer...


Sim, quizera mergulhar na treva do silêncio da morte para me esquecer de tí...


Pois a vida me nega este tão cobiçado favor.


Quizera extrair tua imagem do fundo do meu coração e lança-la fora, como quem lança um peso insuportável...


Quizera banir tua lembrança e expurga-la de minhalma...


Quizera destruir tua recordação e aniquilar meus sentimentos...


E no entanto a vida peleja contra mim.


Pois tudo, tudo em minha volta fala de ti.


A beleza e o aroma das flores...


O frescor do orvalho matutino...


A placidez das águas do mar...


A brisa tão diafana que arrasta as folhas após si...


O canto harmonioso dos pássaros...


Os raios translucidos do sol...


O brilho das estrelas...


Toda natureza fala de ti.


Assim sou constrangido a lembrar-me de ti a cada momento...


E a sofrer como quem sofre duma enfermidade incurável e dum martírio lento.


Desprezado por ti já não vivo, mas me arrasto numa existência precária e tormentosa.


Sem ti cada alegria é uma tristeza...


Cada conquista uma perda...


Cada vitória uma derrota...


Cada prazer uma dor...


Cada instante uma amargura...


Morto por dentro, só me resta aguardar que a natureza cumpra sua tarefa o quanto antes...


Pois como poderia viver sem aquela que é minha vida?


Sem tí vivo qual cego tateando em meio as trevas...


Como nauta em madeiro sem leme...


Como peregrino sem norte...


Como um farrapo a margem da existência...


Como um trapo humano lançado a beira do caminho...


Longe de ti não há para onde fugir nem onde se ocultar ou esconder.


Antes fosse privado do ar que respiro!


Pois o amor é a respiração da alma...


Corpo sem alma sou eu sem teu amor.


O mais infeliz e desditoso de todos os mortais.


O último.


O mais deplorável.


Morreram as esperanças todas e as glórias todas feneceram no instante em que fechaste teu coração para mim.


Volve pois teus doces olhos, plenos de misericórdia para este que implora e concede-me ao menos uma boa palavra.


Pois não compreendo como possas repudiar tão acerbadamente aquele cujo unico crime cometido foi ficar enamorado de ti...








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