"Então em que acredita, uma vez que ignora o sobrenatural??? -- Creio na humanidade, creio no ser humano, creio em você; respondeu ele (O Abade Faria), Eis todo meu credo."

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sexta-feira, 4 de setembro de 2009

O verdadeiro servo...









Certo dia, chegaram ao Céu um MARECHAL, um CIENTISTA, um POLÍTICO e um LAVRADOR.

Um Emissário Divino recebeu-os em elevada esfera, a fim de ouvi-los.

O Marechal aproximou-se ousadamente, e falou:


-- Mensageiro do Comando Supremo, procedo da terra longeva, penso todavia que o Supremo General deseja ver-me.

-- E porque? Indagou o luminoso ser.

-- Ora porque... Porque dei mostras de suma coragem comandando exércitos numerosos, conquistando nações altivas e poderosas, sumetendo os inimigos de minha querida pátria, exterminando os ímpios e criminosos e grangeando o afeto de todo povo, as muitas medalhas de mérito que recebi e os diversos monumentos e placas que honram meu nome dão testemunho se todas estas façanhas.


-- Compreendo... redarguiu o anjo. E agora que deseja em troca de seus serviços?

-- Desejo ser promovido a glória pelo Senhor dos exércitos!

Diante de tais palavras o ministro celeste respondeu sem vacilar:


-- Por enquanto, não pode receber a dádiva. Soldados que pereceram na flor da juventude, mães idosas, viúvas, crianças, os mortos do pais vizinho, os famintos, empesteados... chamam-no insistentemente da Terra. Verifique o que alegam de sua passagem pelo mundo e retorne mais tarde.


O Cientista acercou-se do preposto divino e rogou:


-- Anjo do Sapiíssimo Senhor, venho do acanhado círculo dos mortais e cuido que o Supremo artífice deseja ter-me junto a si.

-- E porque? Indagou o anjo.

-- Porque com minhas pesquisas fiz diversas descobertas que ampliaram o campo da ciência permitindo que novas técnicas fossem desenvolvidas, e novas peças, e novas máquinas, e novos objetos... abra qualquer encicoplédia ou mesmo obra de vulgarização e lá encontrará meu nome, minha foto bem como a imensa lista de associações a que pertenci e de condecorações que obtive.

-- E agora, que deseja? Perguntou o emissário.

-- Ser premiado com o Céu.

-- Por ora, porem, - respondeu o Mensageiro sem titubear não lhe cabe a concessão.

-- Parece-me ouvir o clamor tanto daqueles que não receberam beneficio algum como daqueles que foram prejudicados pelo uso inadequado das coisas que inventou regresse pois a seu velho posto e reflita sobre o uso das coisas que inventou e sobre os verdadeiramente beneficiados por elas.

O Político tomou a palavra e acentuou:

-- Ministro do Todo poderoso, fui fiel administrador do erário e julgo que o regedor Supremo dos mundos deseje ver-me.

-- E porque? Tornou o anjo.

-- Fui autor de diversas emendas, artigos e leis, algumas das quais ostentam meu nome, nome que por sinal designa uma praça e algumas ruas em minha região.

-- Que pede em compensação? perguntou o Missionário do Alto.

Desejo ingressar na pátria celestial.

O Enviado, no entanto, respondeu, firme:

-- Por enquanto não pode ser atendido. O povo mantém opiniões divergentes a seu respeito alguns alegam inclusive que sua atuação beneficiou apenas a alguns setores restritos da sociedade. Inúmeras pessoas pronunciam-lhe o nome com amargura e esses clamores chegam até aqui. Retorne ao seu gabinete, atenda a tais questões e só então retorne.


Por fim aproximou-se, então o Lavrador e falou, humilde:

-- Mensageiro de nosso Pai, fui cultivador da Terra... plantei o milho, o arroz, a batata, o milho e o feijão.

-- Ninguém conhece meu nome, mas eu tive a glória de conhecer as bênçãos de Deus e recebe-las nos raios do sol, na chuva benfeitora, no chão fecundo, nas sementes, nas flores, nos frutos, no amor e na ternura de meus filhos...

O Anjo sorriu e disse:- Que premio deseja?

-- O Lavrador pediu, chorando de emoção:

-- Se nosso Pai permitir, desejaria voltar ao campo e continuar trabalhando. Tenho saudade da contemplação dos milagres de cada dia... A luz surgindo do firmamento em horas certas, a flor desabrochando por si mesma, o pão a multiplicar-se!
...Se puder, plantarei o solo novamente para ver a grandeza divina e revelar-se no grão, transformando em dadivosa espiga... Não aspiro à outra felicidade se não a de prosseguir aprendendo, semeando, louvando e servindo!...


O Mensageiro Espiritual abraçou-o e exclamou, chorando igualmente, de júbilo:

-- Segue-me servo bom e fiel!

O Senhor deseja vê-lo e ouvi-lo, porque adiante do Trono Celestial apenas comparece quem procura trabalhar e servir sem recompensa, valorizando acima de toda as coisas pequenas e simples do dia a dia.

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