Como vigias de seu exuberante pomar poz o principe Tabir um cego e um aleijado.
Cabia ao cego, dotado de ovido apurado, gritar ao mais leve rumor e ao coxo estar sempre atento e vigilante para surpreender os intrusos.
Recomendou-lhes o principe que velassem expecialmente pelos frutos doces de sua ameixeira, os quais sabiam a mel.
Ponderou o principe consigo mesmo: -- Assim não serei roubado pois um é cego e incapaz de contemplar os frutos e outro sendo coxo não lhos poderá alcançar...
Eis que pela tarde, o coxo, com belas palavras e expressões fantasiosas, descreveu ao cego os saborosos frutos de que as arvores estavam carregadas.
Diante disto sugeriu o cego com toda cautela:
-- Então que fazemos nós que não lhos colhemos?
Ao que o coxo retrucou: Como haveremos de apanha-lo se tu não vês e eu mal posso andar?
-- Não passas de um tolo! Exclamou o cego exasperado. Arrasta-te pois até mim e resolverei o caso.
Arrastou-se pois o aleijado com grande dificualdade até o local onde se encontrava o cego, este o colocou sobre suas costas e assim guiado por ele pode achegar-se da ameixeira carregada. Ao aleijado só restou a faina de colhe-los e assim ambos se fartavam enquanto o sol se punha.
Na manhão seguinte quando sua alteza entrou no pomar verificou, com o primeiro golpe de vista, que suas frutas prediletas haviam sido pilhadas.
Urgia descobrir os culpados e puni-los.
Por isso mandou trazer os guardas a sua presença para interroga-los.
-- Senhor meu, exclamo ou aleijado tremendo, como poderia seu saquear a tua árvore e alcançar-lhes os galhos se mal posso me arrastar dum lugar para o outro.
Protestou da mesma feita o cego:
-- E eu oh magnânimo Senhor, como seria capaz de arrancar e de consumir os frutos maduros se não tenho olhos para ver e vivo mergulhado nas trevas?
Muito bem concluiu o principe, ide em paz...
Tendo porém submetido a questão ao idoso vizir, foi logo inteirado sobre o engenhoso ardil com que ambos os vigias lho haviam enganado.
Que fez ele então?
Mandou que colocassem o aleijado as costas do cego e assim os dois juntos foram justiçados com cem bastonadas.
Tal se sucederá com os pecadores após a morte.
Diante do tribunal dirá a alma apontando para o corpo:
-- Eis que nasci pura e sem mancha e este corpo grosseiro me fez pecar!
E o corpo querendo esquivar-se apontará para a alma e exclamará:
-- Senhor esta alma é a culpada pois foi ela quem me impeliu a pecar, eu pobre de mim nada fiz! Como poderia incidir em erro se ela não me inspirasse?
Que fará então o Sábio Senhor?
Unirá a alma ao corpo novamente e dirá: Tal o pecado, tal a expiação!
Talmude, Baba Metsia.
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